Em uma sociedade patriarcal, sexista, misógina, além de estruturalmente racista, como a nossa, se faz necessário pesquisar em que medida a mulher negra é objetificada e racializada, a partir de interpretações que lhe impõem determinados papéis culturais, subalternos, fixados a pretexto da cor de sua pele e de sua ancestralidade negra, como se esses aspectos determinassem sua pretensa vocação à negatividade racial. A obra de Octavia Butler não só pode ser usada como artefato cultural de natureza literária, mas, também, por seu caráter educacional, como ponto de análise e reflexão antirracista. Não só para relembrar as mazelas que o racismo impôs às mulheres negras, mas, sobretudo, como mecanismo de revalorização e (re)sensibilização do que a negritude feminina legou culturalmente. A obra de Butler é uma celebração da força e perseverança, muitas vezes desprezadas, da mulher negra diante das opressões escravistas do passado; e de resistência ao racismo, na contemporaneidade.