AS DORES DE MARIA é o encontro entre diversas culturas de mulheres diferentes, separadas por suas crenças e valores, mas unidas pelo sofrimento. Ela pergunta quais os limites da sororidade e da justiça por vias alternativas. Tudo começa com a morte misteriosa de Irmã Devota, uma anciã consagrada da fictícia Congregação das Irmãs Acolhedoras. Contra ela não havia nada que pudesse desaboná-la e sua morte foi colocada na conta da Covid-19. Isso mesmo, a história se passa no auge da pandemia. Melhor assim, dizer que foi morta por covid que levada pelo Demônio.
Tanto espanto e comoção deve-se ao boato que corria solto na pequena cidade serrana de pau D’Arco: o Diabo estava solto, levando as almas que lhe pertenciam aos infernos. Cansou de esperar. Quem começou a espalhar isso? O Padre Antônio, o novo pároco que ganhou fama por profetizar as mortes dos pecadores, causando comoção na cidade e aumentando as filas da confissão. O homem se empolgou e começou a se achar um santo, acertando todas as mortes e fazendo suas leituras apocalípticas sobre a pandemia, se apresentando como o sucessor de Padre Cícero.
A empolgação do vigário e a reação do povo quebrando as regras sanitárias impostas criou problemas com as autoridades, em especial com o médico local e o prefeito, embora nenhuma quis peitá-lo (quem quis, misteriosamente, foi levado pelo Capiroto, gerando inclusive suspeita se não estava mancomunado com o Chifrudo). O que ninguém sabe é que não ele, nem o Senhor dos Infernos está por trás das mortes, e sim as bondosas e insuspeitas Irmãs Acolhedoras. Essas freiras têm um voto secreto: vingar as mulheres quando a justiça humana falha. Elas fazem isso usando água-tofana, servida aos abusadores.
Desde a sua fundação, e isso é explicado na história, as Irmãs Acolhedoras se aproximam de mulheres abusadas e com elas começam um processo de cura (leia-se, buscar justiça). Quando as leis ou as instituições não conseguem alcançar o abusador, elas entram em cena. Discreta e bondosam