Houve um tempo em que bons cidadãos do Império do Brasil (1822-1888), nas páginas dos jornais, liam anúncios de fugas escravas com alguma naturalidade, afinal a escravidão era parte de suas vidas cotidianas. É verdade que, antes do nascimento da imprensa periódica brasileira no século dezenove, os escravos já fugiam pelas mais diversas razões. Se pode dizer que bastou ter escravidão, para haver escravos em fuga. Porém, mais do que nunca as fugas se tornavam públicas e de conhecimento público, revelando e refinando as redes senhoriais de controle social, mas também dando a conhecer as redes relacionais e o protagonismo escravo. Pode se dizer ainda que, apesar de chocantes aos nossos olhos (ainda bem que assim o seja!), sem os anúncios de fuga, marcas de um tempo em que havia escravidão, seria mais difícil o estudo das fugas escravas. Como conhecer os por quês e como fugiam os escravos? Ou, ainda, suas histórias de resiliência e resistência, apesar de escravo, apesar da escravidão? Sobre isto será falado ao longo deste livro.