Fruto de uma rica trajetória de pesquisa etnográfica e engajamento político, O barracão e a rua aborda as experiências de um coletivo de catadores de materiais recicláveis em Curitiba autodenominado Mutirão. Ao descrevê-lo como uma organização sempre em movimento, a etnografia também se movimenta entre diferentes tempos, lugares e relações. Emerge, assim, a especificidade de um fazer político movido por um ideal de autonomia que depende de “parcerias” diversas para ser efetivado. Em que pese a associação do trabalho cooperativo à sustentabilidade ambiental, no âmbito das políticas públicas, ou à emancipação política, na perspectiva dos militantes católicos que acompanham o Mutirão, um “grupo de catadores organizados” não é economicamente autossustentável. Conforme aponta a cuidadosa análise de Magda Mascarello, as relações tensas e ambíguas entre os catadores e seus diferentes “parceiros” explicitam sua compreensão de que a independência do Mutirão consiste na multiplicação das relações – “catar relações” –, diluindo a dependência de cada “parceiro” específico.
Ciméa Barbato Bevilaqua
Professora do Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR)
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