Maurício Castro, através de Devaneios de Chico e outros contos, dialoga com passagens pitorescas de um quotidiano que traz histórias esculpidas em meio popular. Além de enunciar os anseios humanos em sentido material, emocional e corpóreo, suas narrativas evidenciam com bom humor os encontros e desencontros existenciais, a privilegiar a experiência e a excedência dos instintos, em alguns casos, vividos sem amarras.
Inicialmente, os personagens Tuca, Geladeira, Tripé e Geninho foram o foco de inspiração por trazer uma descrição narrativa marcada pela irreverência e a indulgência quanto aos reclamos de suas próprias vontades; alguém que se permite viver à sua maneira apesar da moralidade situada. Decerto, essa liberdade de si sugeriu o contraponto e, por conseguinte, alguns “impostores” foram desvelados trazendo na sacola as marcas de sua hipocrisia.
Esse ciclo primeiro desaguou em Jegue do Lixo, Caicó e em Chico, este com as suas dores atávicas, no fundo, respostas à ausência de sentido da vida ante à batuta de um sistema abominável que impõe um modelo de vivência pretensamente irrefutável. Em seguida, os causos e a alegria de Pirangi contornaram essa tragicidade com certa irreverência, dando, assim, acabamento a uma “casa” que concilia compartimentos, verdadeiramente, intercomunicantes.
Marque um encontro, então, neste lugar e desfrute dessas narrativas que desembocam no saboroso estuário da existência humana.