'Urdido em fios de matizes diversos, que ao serem cardados mostram as faces do colonialismo em relação às indígenas mulheres, assim é o trabalho de Paula Sampaio. Os retalhos das narrativas silenciadas, coletados pela autora, foram bem atados à trama e revelam a agência das indígenas mulheres enquanto pessoas que lutam, como se diz hoje, de maneira antirracista e posicionadas segundo os cânones do feminismo comunitário. Resistência histórica de longa duração indica ao/a leitor/a que, mesmo aqueles/as com quem os povos indígenas estabeleceram alianças, não detém narrativas confiáveis, pois 'esquecem' o 'ponto de vista das mulheres originárias' e terminam por retratá-las via os estereótipos vigentes na sociedade colonial, ignorando a construção da cidadã em trajetórias de atuação nos movimentos indígenas. O viés se faz presente nos diversos discursos analisados pela autora, sejam eles antropológicos, historiográficos e/ou indigenistas. A riqueza das fontes históricas utilizadas no trabalho é de extrema relevância. Pelas mãos da autora, textos e imagens exaustivamente analisados, vão produzindo os rostos das indígenas mulheres resultando em apontar quão danosa é a construção que, inscrita na ordem da dominação, torna as protagonistas do trabalho estigmatizadas pela suposta fragilidade de seus corpos, mesmo quando enfrentam seus algozes tanto na luta pela terra, como ao serem violadas. Paula Sampaio fia, com a acuidade de excelente artesã, o silêncio das narrativas que procuram ignorar o que salta aos olhos o destemor das indígenas mulheres guerreiras em busca do 'bem viver.'Jane Felipe Beltrão ISBN: 9786589065548 | Editora: Cancioneiro | Autor: Paula Faustino Sampaio