Belém do Pará, dez de março de 1.980. Por volta das oito e meia da manhã, César Moraes Leite, 19 anos de idade, assiste a uma aula do curso de Engenharia Elétrica na Universidade Federal do Pará. De repente, um estampido ecoa, reproduzindo-se em gritos assustados e correria, vindos de todas as salas e pavilhões vizinhos. Naquele instante, em plena sala de aula, César tomba com uma bala no coração. Meia hora depois, morre no Pronto Socorro Municipal.
A polícia e a imprensa tratam o episódio como um acidente qualquer: um agente federal deixou cair a sua arma, e esta detonou, alvejando o rapaz na carteira próxima.
Malgrado a Ditadura Militar ainda subjugasse o nosso país, o fato foi blindado a qualquer vínculo com o esquema de repressão do regime. Segundo a versão oficial, o servidor lá estava como um simples aluno, tal e qual a sua vítima.
Mas a história que lhes conto a seguir não é a história de César. É apenas a saga de um jovem brasileiro qualquer, igual à de milhares que diariamente deixam seus grotões rumo à cidade grande, com uma quase vazia maleta na mão e a cabeça cheia de sonhos.
De César – que não conheci pessoalmente –, recolho somente a sua tragédia, neste romance repassada ao personagem principal, Zé Luiz.