Um dos temas mais instigantes (e teologicamente controvertidos) tópicos da história da arte sacra cristã desde a Antiguidade é aquele sobre como dar imagem visível aos conteúdos invisíveis da fé. Em certos momentos da história da Igreja, tal questão aflorou com especial força, provocando calorosas polêmicas entre teólogos e remexendo a imaginação de artistas e mecenas. A Contrarreforma é um dos momentos em que isso se deu de modo mais decisivo, em face aos ataques iconoclastas de reformadores e à necessidade de propagar a fé católica de modo persuasivo e eficaz. A eloquência sacra, em tal contexto, teve de tomar corpo na pintura. A pregação tornou-se um tos temas prediletos na arte e seus protótipos foram buscados na tradição da Igreja, em seus mitos hagiográficos e nas suas Escrituras. São João Batista, a voz clamante no deserto, desponta como seu maior arquétipo. Refletir sobre ele é o que se propõe esta obra.