Caro Leitor, cara Leitora Venho por esta curta introdução epistolar convidá-los a entrar no universo da correspondência amorosa formal publicada nos manuais de cartas de amor dos finais do século XIX e começo do século XX em Portugal conhecidos como Secretários, Mensageiros e Conselheiros dos Amantes. Venho convidá-los a observar e explorar a forma, o aspecto discursivo e lúdico desta coleção de obras coletadas cuja linguagem rebuscada mostra claramente uma linguagem romântica. Conjunto literário com funções didáticas, de fácil manuseio, suas publicações destinavam-se a todos os que, timidamente ou sem saber escrever, buscavam um suporte à expressão das suas aspirações amorosas.
Este ensaio é o fruto de uma pesquisa realizada na Biblioteca Nacional de Portugal, em 2012, financiada pela Fundação Calouste Gulbenkian durante dez meses. Agradeço sinceramente à Fundação por ter-me dado excelentes condicões de trabalho e a oportunidade de abrir novas reflexões sobre a epistolografia lusófona.
Trinta e quatro obras foram levantadas nos fundos da Biblioteca Nacional de Portugal e constituem o corpus deste trabalho. São opúsculos heterogêneos publicados em editoras populares portuenses e lisboetas em formato de folhetos in-12, em formato de livro in-8. Estes manuais de cartas de amor eram vendidos a baixo preço. Algumas edições têm 15 páginas, mas podem chegar a 227. Destinam-se aos amantes, à juventude, a “ambos os sexos, às damas e aos cavaleiros”, também “à sociedade elegante”, servindo de apoio epistolar. Através destes opúsculos são ensinadas a etiqueta e as normas da linguagem amorosa ditada pela sociedade buguesa do século XIX e começo do século XX.