A historiografia contemporânea é um campo de produção do conhecimento profundamente interdisciplinar, marcado pela coexistência de diferentes bases teórico-metodológicas e por inovações que se desenvolvem a partir de diferentes polos acadêmicos. Esse “multicentrismo na inovação historiográfica”, para utilizar a expressão de Carlos Antonio Aguirre Rojas, não se trata de um fenômeno recente. Alguns ousam situá-lo como fruto das décadas de 1960 e 1970, no contexto de transformações sociais, de expansão vertiginosa no itinerário historiográfico
e de evidente crise dos grandes paradigmas e dos modelos de explicação deterministas; outros situam tal iniciativa interdisciplinar à experiência historiográfica derivada da ousadia iniciada com os historiadores franceses coordenados por Lucien Febvre e MarcBloch, a partir da década de 1920, ao se contraporem aos cânones defendidos pela chamada Escola Metódica acerca das maneiras de conceber e de pesquisar a história; há pesquisas, como as de Carlo Ginzburg, que identificam essa propensão interdisciplinar em temporalidades bem mais remotas, nas relações
de força inerentes à própria constituição do saber histórico, seja sob a forma de contribuição; seja sob a forma de crítica.