Filosofar é um movimento contínuo de se estar vivo. Ao viver, o ser humano se lança ao mundo e ocupa-se dele, construindo sentidos para sua existência. Nesse movimento, as palavras são um campo onde a vida ganha contornos outros, sendo repensada, representada e ressignificada. Ao ser vertida em um tratado filosófico, peça teatral ou ensaio jornalístico, a vida torna-se um “descobrimento incessante que fazemos de nós mesmos e do mundo ao redor”. Entretanto, a intersecção entre a escrita e a vida não é isenta de conflitos. Há momentos em que as palavras parecem insuficientes para abarcar a plenitude da existência. O existir, isto é, aquele saber-se vivo, muitas vezes escapa da escrita, permanecendo como algo que apenas o sentir pode acessar. Essa insuficiência, longe de ser um problema, é um lembrete de que a vida, em sua totalidade, não pode ser inteiramente reduzida em palavras. O estar vivo sempre excede, sempre escapa, sempre se reinventa.
Escrever como condição para a vida é, ao mesmo tempo, uma celebração e um desafio. Ela nos permite transcender os limites do imediato, registrar nossa passagem pelo mundo e dialogar com aquilo que está por vir. Mas ela também nos confronta com o inefável, com aquilo que está além das palavras, lembrando-nos de que a vida, em última instância, é mais do que se pode dizer. Nesse jogo incessante entre o viver e o escrever, o humano se encontra, se perde e, novamente, se recria. Os muitos textos que compõem o segundo volume da coletânea Filosofia com Poesia são expressões coincidentes dessa busca por estar vivo, do gostar de palavrar e do fazer filosófico.